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Narrativa: Dia de Seminário ou Fim do Mundo?

Dia de Seminário ou Fim do Mundo!

Era domingo, 13h10 da tarde, quando o celular vibrou com uma mensagem inesperada. Era um print de um link do drive contendo artigos, e Sara disse:
— Acho que os textos são esses aqui! Falta lembrar qual é o nosso kkkk.

Ela continua:
— Será que esses dados estão certos? Aqui diz que o nosso é dia 24...

Eu já estava quase desligando o notebook quando vi as mensagens e um desespero começou a se instalar: tinha esquecido do seminário!!! Que deveríamos apresentar no dia seguinte. Peguei o celular e, lendo as mensagens com nervosismo, respondi tranquilamente para não assustar meus colegas:
— É dia 17 mesmo, amanhã!

Houve uma pausa na conversa de poucos minutos.

Seguiram-se momentos de tensão e uma enxurrada de figurinhas de choro e desânimo no grupo privado do WhatsApp.
— Então vamos dividir as partes! — Eu disse, apressada para saber o que apresentaria.
— Fico com as partes 2 e 4 do segundo artigo — comentei com Rodrigo, que dividiria o artigo comigo. E ele concordou.

Assim começou uma longa tarde de leitura, anotações, dores de cabeça e minha obrigação de dias de  domingo (ir a Santa Missa). Entre textos e consultas na internet, saídas rápidas e dipirona, finalmente, às 22h30, o slide estava pronto e as falas “decoradas”. O sono e o desespero ainda pesavam, mas consegui dormir tranquilamente.

Acordei às 5h30, com o despertador que programei para revisar tudo mais uma vez e, para minha surpresa, percebi que estava pronta para enfrentar o tão temido seminário, pelo menos era o que eu pensava.

O dia amanheceu chuvoso e me preparei para chegar mais cedo à universidade e revisar os textos antes do juízo final. Saí com antecedência e cheguei ao local faltando cinco minutos.

— Bom dia! A aula vai ser na H305 de novo? — perguntou José no grupo da disciplina, às 7h52.
— Bom dia! Sim! Vou demorar alguns minutos. Aproveitem para organizar as apresentações... — respondeu o professor, às 8h04

Senti que podia respirar. Teríamos mais tempo para nos preparar.

Mas a tranquilidade durou pouco. Rodrigo mandou uma mensagem informando que sua mãe estava mal e que ficaria com ela, e ele não poderia apresentar. Teríamos que seguir sem ele. Um furo no meio do seminário, que desastre! 

Sara chegou e enquanto esperávamos, eu torcia para o seminário ser adiado, quando o professor finalmente chegou, sorridente:
— Bom dia, bom dia! Tudo bem?
— Bom dia, professor! Tudo bem, mas tivemos um imprevisto. Nosso colega não poderá apresentar hoje — e explicando a situação, perguntei — Podemos deixar para a semana que vem? Vai ser rapidinho! — tentei, com esperança.
— Poxa, mas vocês apresentam e ele apresenta depois, sozinho! — respondeu o professor, com uma expressão séria devido ao ocorrido com Rodrigo.

Meu coração acelerou e senti vontade de chorar. Mas sorri e disse:
— Tudo bem, vamos lá!

Subimos para o último andar, e o corredor parecia mais estreito. As pernas estavam pesadas, a boca seca. Não acreditava que teria que apresentar.

— Me mandem as apresentações — disse o professor, ajeitando o notebook na mesa e comentou casualmente: — Essa mesa é nova!

Como ele poderia estar tão tranquilo? Enquanto isso, meu nervosismo só aumentava.

O primeiro grupo começou sua apresentação. O professor fazia comentários e interrompia algumas vezes.

Olho para o relógio: 9h. Ele não vai dar intervalo? Pensava eu, sentada com os colegas em um semicírculo. Infelizmente, a apresentação terminou por volta das 9h38.

— Vou dar o intervalo e pegar os textos para a gente discutir! — anunciou o professor, indo buscar as cópias dos textos no térreo do prédio.

Sai da sala como um foguete acompanhada de Sara e Ravi. Fomos até uma sala vazia para treinar. Repetíamos desesperadas entre passadas de mão no cabelo e sorridos agoniados:
— Não vai dar tempo! Não vai dar tempo! — Como se repetir estas palavras, o Senhor atenderia nossas preces.

O intervalo passou num piscar de olhos e logo nos vimos subindo as escadas de volta para a sala, as pernas trêmulas e com sorrisos desajeitados estampados nos rostos sem graça. Caminhamos devagar, como se isso pudessemos adiar o tão temido seminário.

Chegamos ao último andar e o professor ainda não havia voltado.

 — Vamos ao banheiro — eu disse, esfregando as mãos geladas.

Os minutos passavam arrastados, quando Ravi anunciou que era 10h, o alívio ainda não era completo, pois o mistério do professor ainda nos assombrava.

Quando, sem perceber, o professor já estava de volta à sala de aula, e colocando as cópias sobre as carteiras, disse:

 — Vamos fazer um exercício! O exercício consistia em ler uma narrativa e o resumo de um artigo, e depois escrever um único texto conectando os dois, em aproximadamente 10 minutos. Feito isso, lemos em voz alta, em pé e na frente da classe, eu estava nervosa e tremia por dentro, fui a última a apresentar, ao sentar-me no meu lugar, o professor comentou sobre os textos apresentados. 

Quando finalmente, o professor olhou,  com um sorriso no rosto, para Sara e eu e disse: 

 — E o seminário ficou mesmo pra semana que vem! 

Então, eu sobrevivi. O sol brilhava lá fora, e por um breve momento, pude respirar aliviada... Até a semana que vem.

Autor: Larissa Pinheiro da Silva.


Este texto narra as 21 horas de tensão desde o início do preparo para a apresentação até o momento de colapso momentâneo causado pelo adiamento do seminário. Os episódios relatados são reais e autorais, os nomes dos personagens foram trocados para garantir sua privacidade.

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