Conto de Terror: Casa.
Era uma noite sombria e ventosa quando me vi no quintal de uma casa antiga. A fachada era velha, desgastada e com desenhos de giz na calçada, uma lâmpada amarelada balançava no canto da casa. Árvores escuras e fechadas de folhas cercavam o espaço, dando a sensação de que algo se escondia nas galhas, lançando sombras longas e inquietantes sob a luz pálida da lua, que às vezes espiava por entre as nuvens pesadas. O quintal parecia se estender interminavelmente, envolto em uma escuridão densa que engolia qualquer vestígio de luz. O vento uivava, ouvia latidos e uivos de cães distantes, olhei ao meu redor e não via nada além da minha sombra e folhas que rolavam no chão.
De repente, um grito estridente rasgou o ar, vindo de dentro da casa. Era um som de puro desespero e medo, ecoando pela noite como um lamento fantasmagórico. Corri em direção à entrada, impulsionada por uma mistura de medo e urgência. A porta da casa se abriu com facilidade. Era grande, com rachaduras na pintura azul por causa do tempo, rangendo de forma sinistra que senti nos ossos o ranger da porta.
Ao entrar na casa, me deparei com uma escuridão sufocante. Os cômodos eram grandes e vazios, com cantos envoltos em sombras profundas que pareciam se mover com vida própria. Não havia janelas, e a ausência de luz natural fazia com que a casa parecesse um poço sem fundo. Cada cômodo se tornava um labirinto de trevas, me confundindo à medida que eu avançava, apesar de a casa parecer pequena por fora.
O grito ecoava nos quartos vazios. Não ouvia nada além dos gritos contínuos, meus passos e meu coração que batia como um tambor. Cada vez que pensava estar mais próxima da origem do som, ele parecia se afastar, me atraindo mais para o interior do labirinto sombrio. O ar estava gelado, e eu podia ver minha própria respiração formando nuvens de vapor no ar. Eu corria de quarto em quarto procurando desesperadamente a mulher que gritava.
Então, de repente, os gritos pararam, e um choro de bebê recém-nascido tomou seu lugar. O som era frágil, mas carregado de uma tristeza profunda. Segui calmamente o som até um quarto, o único quarto que tinha uma porta no lugar. Ouvi o choro, que se misturava com o vento lá fora, criando uma melodia macabra e perturbadora. Abri a porta lentamente, cada rangido parecendo um grito de aviso, e me deparei com uma cena de puro horror.
Uma velha estava sentada no canto, de frente para a parede, suas costas arqueadas e seu corpo envolvido em trapos pretos. Ela chorava como um bebê recém-nascido, um som perturbador em contraste com sua aparência decrépita. Seus cabelos brancos, longos e emaranhados, cobriam parcialmente seu rosto. Me aproximei e estiquei a mão, tocando seu ombro de leve.
No instante em que encostei, ela se virou rapidamente, seu rosto se contorcendo em um grito horrível que congelou meu sangue. Seus olhos eram duas órbitas vazias, negras como a noite, e seu grito era um som inumano, agudo e ensurdecedor, que me fez cair para trás em um buraco que se abriu no chão.
Acordei de repente, meu corpo encharcado de suor frio. O grito ainda ecoava em minha mente, e a sensação de pavor persistia, como se a velha ainda estivesse ali, em algum canto escuro do meu quarto, esperando para se virar novamente.
Me levantei devagar, ainda assustada. Não havia ninguém em casa e o dia estava amanhecendo. Saí e deitei-me no chão do pátio, olhando as últimas estrelas sumindo com o brilho do sol. Sentia o frio da noite se dissipar aos poucos, mas a lembrança daquele sonho macabro permanecia, gravada em minha mente, como um aviso sombrio das profundezas de meu próprio subconsciente.
Autor: Larissa Pinheiro da Silva.